domingo, 13 de novembro de 2011

Expurgo

Expurgo

Corroídas por longas e longas eras esquecidas,
Imersas em meio ao solitário mar da relva,
Jazem, coradas por louros de ouro enferrujado,
Ruínas e ruínas de mármore imemorável.
Escombros entrelaçados por veias ressecadas
De hera rastejante, de fruto envenenado. O sibilar
Mesmérico do vento trespassava rocha e era
E hera e sombra. E as sombras eram
Não mais que meras lembranças que se perderam
Naquele labirinto longe do tempo

E daquele céu cinza, sem sol, descia
Uma sombra sobre a imensidão vazia
Vinda de longínquos tempos, perdida:
Sombra da sombra daquela glória caída.
Sobre morte e vida se estendia,
Uma torre negra e incorpórea (memória
Da melancólica queda) que abraçava,
Com lúgubre alegria, seu passado desfigurado,
Contorcido e corrompido, sua alvura manchada.
E em seu topo, uma turva figura
Contemplava a vastidão do mar à sua frente.
O que viu? O que via?
Velas no horizonte que partiam.
De onde vieram? Para onde iam?
Nada sabia, nada sabia.
Apenas sonhava, apenas dormia.
E em seu sonho ansiava retornar,
Mas não mais podia.
Além do que fora, além da ruína,
Nada havia, nada havia.