domingo, 24 de fevereiro de 2013

Poeminha dos Pessoa


“Tua arte é tão bela, tão maravilhosa
Que pelo vento, eternamente ressoa.
Tua mente tão vasta, tão geniosa
Que não cabe em um só Pessoa.”




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Lágrimas sob o Por Do Sol


Ela apoiou o rosto no meu, levemente
E me olhou nos olhos, dizendo-me
E explicando-me, calmamente
Os versos de uma canção deprimente.

Toquei sua nuca, o cabelo macio
E sedoso por entre meus dedos,
E a poesia me ardendo profundamente
Nos lábios e no meu peito ardente.

Beijei-a de leve, tudo ia devagar
Como se o tempo, pudesse esperar.
A nossa volta o mundo girava
E nossas bocas, somente dançavam.

Diante de nós o céu laranja, imortal
Figura celeste das nossas imperfeições.
A cidade, amolecida e decrépita gemia
E nossas almas, ignoravam, apenas.

Dias seguiram e o agouro chegou.
No mesmo banco eu de novo choro,
Dessa vez sem rosto de apoio, solitário
Meu choro, sem lábio de cura, sem nada.

O rosto dela que foi embora me chamava,
Gritava por socorro, queria meu abraço.
Mal sabia minha pobre alma desfalecida
Que havia sido enganada pela saudade.

O vento ainda ressoa, mesmo que mudo agora,
E o céu laranja ainda reina, mesmo que pálido,
E as palavras dela ainda vagam minha memória.
“Você está errado, meu amor, eu vou embora”.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Definição, pobre definição



O tesão é um hálito ácido e quente
Que percorre as narinas e coça a garganta,
Descendo pelo peito te queimando os lábios.

Os lábios são muralhas que precisam cair,
Tornar-se úmidos e macios para poder
Subitamente, mas muito quietamente,
Cada tendão vivo se arrepiar.

O arrepio é uma canção, algo rápido
Que nos faz cantar bagunças e repúdios.
É talvez uma pureza áspera, encardida,
De alguém que pede por um contato.
Bem sei, contudo, que é uma canção.

A canção é, antes de tudo, poesia.
Todos cantam quando entregues,
Quando sujos, cansados e suados.
Queremos sangue, queremos gritar,
Enquanto gozamos alegres, e pouco
Ligamos para o que é amor.

O amor é algo oculto.
Oculto como poesia, como arte.
O amor é tudo, somos nós
Na nossa plenitude.
O amor é um hálito ácido e quente
Que percorre as narinas e coça a garganta
Descendo pelo peito te queimando os lábios.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Infortúnio Solitário

"Poema que abre uma obra que comecei nomeada "Saga dos Vermes". Espero que gostem."


A neblina que é solitária adora me visitar,
Mesmo quando estou parado esperando um sol.

As incontáveis vezes que dormi faminto
Ou encharcado de saudades e desejos
Nunca compensaram os dias de companhia.
Não sei bem de quem, algo muito superficial.

A cerveja parece sempre mais quente, o cigarro mais vagabundo,
A grama menos verde, com perdão do clichê horrível.
Shakespeare parece piadas ruins de boteco
E Vivaldi parece rangido de giz no quadro negro
Ou um gato torturado com lâminas mal afiadas.

Ás vezes dá uma vontade de esquecer tudo
De aprender tudo de novo, como a ingênua criança
Que ainda não vê o câncer do mundo.

Todo dia aprendo a mesma coisa, a mesma pauta, a mesma lição
Que esqueço todo dia quando ironicamente esboço um sorriso.
A vontade de construir um reino com as próprias mãos
E a lição de não se erguer um mero tijolo, do mais leve.

Maior inimigo é o espelho, tanto o que mente quanto o que revela.
O gosto de amargo no final da vida é sempre o mesmo.

Sempre acabo indo dormir cedo
Depois que a televisão enjoa de mim.

Já ouvi que uns negaram a melancolia, talvez estejam certos,
Ou estão olhando o espelho errado, como eu
Quando gastei muito tempo enxergando anjos brincando nas campinas.

Para terminar essa putrefação tanto de espírito quanto de arte
Deixe-me, por favor, só essa vez, rimar.
Dessa lama, o nobre e o verme, qualquer um faz parte
E eu como verme, aprendi onde é meu lugar.