segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Regresso

Tornou-se o céu tão claro agora,
Tão intocavelmente leve
(Demasiado tarde, demasiado breve)
Que o vazio pesou em minha mente
E lançou-me a ele relutante.
As incontáveis aves que criei,
Regressando de seu voo inquieto
Revolvendo aquela imensidão humana,
Voltaram sem achar nenhum descanso
E pousaram solitárias em meus ombros,
Pesadas, pálidas, pensativas
Dos desvelados anos de perjúrio,
Sem trazer ao bico alguma rama,
Sem trazer-me à alma algum repouso.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

No meio de todo esse calor
E todo esse sentir
No qual estamos imersos

Peço perdão, meu amor
Por te diminuir
Para caber em meus versos


domingo, 8 de dezembro de 2013

À Costa II

À orla retornaram as ondas, intrigadas,
Sem encontrar ali qualquer barreira.
Dissolvera-se a areia;
Entregara-se por inteira ao mar.
Desperta o sol junto ao olhar -
Recolhem-se as água, e, ao longe,
Contemplam, juntamente à costa,
O leito à orla em que o luar lhes conjugou.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Scepticism en Scene

A dew-drop of thought spred its ficiton on the fog.
A half-conceived vision fought to stand unstrained
With its feet fixed over the grey slippery froth.
Hands caught the reins of rain while something sat
Upon the rolling straddle of the sea's silvery cloth.

The scene was set, conceivable enough,
Constructed with concrete conjuring words, or ought,
Though now considering this after-thought
It seems the scene dissolves and what's left of it
Is the gleam of watery words and hiss of slithering mock.


domingo, 1 de dezembro de 2013

Paraíso Reconquistado

O verde sobre o qual te assentas
Gotejou das folhas que te cobrem,
Folhas da árvore em que te recostas,
Mãe do inviolado fruto revigorado
Que tuas mãos graciosamente cuidam
E intrigados olhos inquirem
Qual sangue há concedido
O rubor que se reflete em seu candor.
Pode primeiro esta iridiscência
Ter doado a cor de nosso sange?
Pode a maculada seara de Cain
Conceber a semente desta sombra?
Que são estas ramas? São?
Não colhera o verdor do chão,
Apregoara-lhe no céu e te esquecera?
Firmara ressequidos galhos nesta árvore
Com a inconsciente violência de uma imaginação ingênua?
Soergueu esta mesma árvore morta por repouso
E engendrou em olhos enclausurados
Verdejantes vícios visionários?
Deixe que o roçar desta casca áspera
Reconduza o horror a tua pele
E o calor da areia corroa o sono de teus pés.
Teu dormir é um presságio de uma morte eterna.
Desperta: a miragem do deserto é teu desejo;
Segue-a.


Anima Mea

Não caminhes sobre o crepúsculo, alma minha,
A queda é mais violenta e mais cruel.
Deixe que o alvorecer se estenda
Num amanhã de um lado ao outro;
Não o atribule com preocupações perenes;
Não pergunte por que deixou a noite,
A noite somente é ele em outro tempo
E nele não há tais tribulações.
O que quiseres saber, alma minha,
Não o deves, tem um gosto
Desconhecido e assaz dormente.
Quando te encontrares à meia-luz
Perguntarás a direção do dia:
Mas é uma pergunta inconsequente,
A resposta já a precedia.