sexta-feira, 30 de maio de 2014

O Agouro

Os olhos são lodos profundos de vazio,
Seu corpo um entoado de tristeza corrente.

Assim como o ar, é frio e cortante. Solitário.
Quieto. Só fala diante do maior absurdo.

Suas plumas negras, de nobreza noturna
Misturam-se ao corpo da penumbra.

Errantes malditos, bailarinos dos mistérios,
Girando suas graças soltos na bruma.
A dor e a morte são seu império,
A lágrima e a memória são a sua pluma.

É dentre os mortais, o agouro mais medonho.
Sua presença, o caos para todo que o avista.
Exceto a feliz coincidência, eu suponho,
De quando pousou nos umbrais daquele artista.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Sobre a Ponte de Pegas

Deixe, peço, que estas lágrimas que tanto te revoltam
Despertem de seu sono e nos despeçam apenas
Quando a lembrança amarga da revolução dos astros,
Como um augúrio impresso ante a migração do sol,
Entreponha após o desenlace de nossos dedos
A realidade intransponível da memória
E do desejo.

(Inspirado na lenda chinesa de Niu Lang (Vaqueiro) e Zhi Nu (Fiandeira), escrito pós a leitura de um poema anônimo chinês, aqui traduzido do inglês)

Longe e longe está a Estrela do Vaqueiro,
clara e clara é a Garota Fiandeira.
Alva e delicada, suas mãos se movem
ziguezagueando no tear.
Ela não termina uma peça num dia
e suas lágrimas fiam-se abaixo como chuva.
O Rio Celeste está claro e raso;
Não há nenhuma distância entre os dois.
Através das águas transbordantes
a Fiandeira olha com amor silente