Eis que adentro paredes
de madeira quente.
Resultado de episódios
rápidos e confusos
Cujas almas de tão
bondosa calma e mente
Poram-me a mesa e a
tagarelar picuinhas divertidas.
Entre risos e assuntos
obtusos.
Era de um charme
aconchegante e pomposo.
Não pomposo ás modas
arcaicas. Céus,não!
Pomposo com a marca do
suor sem remorso.
Em figuras de força
que se prendiam nas paredes e teto,
Eram do mesmo calor que
exauria de cada coração.
Foste então somente
casa bonita e bem querida,
Não me daria metade
interessado à sua ardência.
O fato é que, aonde eu
mantinha a minha escondida,
Jorravam felicidade em
dentes sinceros, em panos finos.
Que me pegava na mais
estranha e vil veemência.
Tinham-me tímido e
indisposto a muito além de uma simpatia.
Um caso curto, uma
ritminha tímida dos desascendidos.
Quisesse eu ser um
lirista, bêbado em tudo quanto é ritmia,
Mas eu apenas me
concentrava aos modos com olhos finos
E aos momentos
indescritivelmente curtos e compridos.
//
Mas há um detalhe não
contado na trama
Deveras importante e
consumado,
Foi o baque vil e
quente feito chama
A me deixar zonzo e
desnorteado.
No começo (ah, começo,
seu maldito ingrato)
Foi discreto,
imperceptível, curto
Reumido em um elogio
bem intencionado,
Que do “eu são”
preparavas o furto.
Sim, roubou a minha
sanidade, apenas por um segundo
Talvez dois, até três,
eu perdi a capacidade de contar,
Mas o fato é que a tal
visão desfez as bases do mundo.
Olhos que me olhavam de
baixo, assim como o falar.
Por vezes eu
desentendia aqueles dizeres
E abstino-me de toda a
responsabilidade!
Não tive culpa se
estavas a me fazer
A dar aos teus olhos
minha frágil sanidade.
//
São olhos distantes
das tuas mãos!
Assim dizia minha mente
pessimista.
Sim, pessimista. Não
há lugar para otimismos
No antro das artes
custosas das letras sangrentas.
Estão distantes! Estão
distantes, eu disse!
Assim me confirmou uma
outra voz, sorrindo,
Muito mais gentil do
que eu ouse ser comigo.
Ignore-o! São olhos ao
lado dos teus ombros!
Assim disse-me a mim em
outro momento.
Se porventura fosse
imune aos meus grilhões,
Estes pesados que me
prendi para que não fugisse,
Eu descobriria a
verdade da distância dos olhos.
Mais querido talvez que
o quadrante do céu dos olhos,
Dos lugares aonde
estiveram e pra onde se postaram.
Fosse, porventura,
sabida de grilhões e espaços,
Teriam meus olhos um
pouco mais de calma.
Para! Não lute na
corrente de estrelas, mas nade!
Ou assim ainda penso,
ao menos nos tempos
Que não estou fixo em
estrelas, nas formas e cores,
Ou no broche vívido
como um pássaro cor de bronze.
Penso em repousar sobre
as marés e os ventos,
E torcer que uma
estrela me carregue.
//
Mas seria assim tão
simples?
É fato, é tato, ao
que me diz respeito
Da figura forte e de
cor quente,
Aquecida por panos
finos ao pescoço.
Uma pele que parece
quente como abraço
E forte como aço,
forte e marcada
Com machas dos padrões
que foi emancipada
Da dor das lágrimas de
um qualquer moço.
Quando a vi sentada,
pernas juntas, livro na mão.
A declamar versos sobre
lembranças
Sobre como a memória
dos seus dedos resistia,
De como rangia, aos
versos, o berço capitalista.
É simples que por onde
andas, me encontras
As vezes, as felizes
vezes que apetecem.
É simples pois é
sempre o mesmo sentido.
Por onde me encontras,
docemente me faz
Ouvir as palavras que
(acredite) me aquecem
E me esqueço das
coisas por um estalido
Tu vais ao lugar com
teus olhos e tuas bochechas.
A dar-me, bochecha a
bochecha
O gosto de experimentar
o cheiro da tua bochecha.
Fico com a sensação
de estar leve na correnteza,
Flutuando calmo, vago,
vazio e sem certeza
Que a estrela um dia
toque em mim e fique presa.
//
Quando meu olho
encontra teu olho
É olho sobre olho em
cima de olho.
Você não percebe mas
eu me encolho.
Das expressões
naturais, do riso natural
Do jeito natural de
agir natural.
Nessas horas eu até
respiro mal.
Mas não é tristeza,
não se engane
É um fascíneo tímido
sobre as margens
Que eu odeio não saber
reconhecer
Entre um riacho e uma
correnteza.
Entre uma estrela e um
cometa.
É quando eu fito,
discreto, sua cintura nua
Sua nuca, a forma com
que prende o cabelo,
Como caminha e como
tento adivinhar como respiras.
Sua boca, imaginando a
delicadesa ou o fervor do teu pranto.
Uma nobreza sem escudo,
sem sangue pintado, sem broche bordado.
Somente uma vida
atritante, pulmão cheio e lábio suado.
Sem sonhos doces,
coloridos, impossíveis e adocicados.
Somente a simplicidade
e as mãos firmes que esqueceram os antepassados.
//
É verdade, porém, não
me iludo.
Que tal sentimento,
além de mudo.
É faca.
Daquelas que podem
entrar
E sem que se perceba
cortar
Por debaixo da pele,
paciente
Cortando pele e
cortando mente,
Essa faca não tem
baínha
É como vara sem linha
Corta, sem nos deixar
ver
E crer que nos corta.
Mas acredite, nos
coloca
Sobre os domínios da
dor
E quando temos ciência
Não há clemência. Só
amor.
Mas não, essa faca
está guardada.
Entretanto basta um
descuido,
Um deslize, um pequeno
escorregão.
E a faca corta fundo e
sem perdão.
//
Junto à mesa, eu
haveria de reconhecer
Todos os sentdos da
minha vivência.
Eu me sento como um
burguês sonso,
A fitar as panelas e
adivinhar os cheiros.
Quando sento, sou
vítima do devaneio
Não sei se penso na
comida
Ou no pensamento do
amigo alheio.
Coicidência, no dia
que estavas a mesa
Pensei na sua boca, na
sua bochecha
Nos seus ombros, no seu
cabelo.
No que pensavas, no que
faria,
Pra quem olhava, no que
diria.
E disfarçado de um
elogio
Ainda que totalmente
sincero.
Apresentei-me, do meu
jeito
Desse jeito que eu
nunca quero.
Como um ser tímido das
artes verbais,
Que não consegue ver a
marca da guerra
Nos olhos das almas que
guardam
Cicatrizes e crateras
das violências.
//
Infelizmente só
consigo te reduzir a grossa arte.
De ofício fraco e
rimas simplórias.
Porque só o poeta
maldito tem noção
Do quão grosseiros,
rasos e simples
São os seus versos.
Maldito? Perguntas.
Sim! Maldito
Daqueles com ânsia
de sol nascente,
Daqueles que o peito é
leve ao crepúsculo.
Outros te diriam
palavras mais doces,
Simples, talvez, é
possível
Mas te dariam a doçura
de liros mais calmos.
Só que diante deste
meu respirar pesado,
Deste mundo bastardo,
destas engrenagens
Que enferrujam nossas
tardes preguiçosas
Como poderia eu ser
doce?
Que escolha teria eu
Além a de ser uma alma
vil, uma alma rústica,
Que não pode
conceber-te a beleza de uma flor
Ou beleza qualquer
outra senão a beleza da força?
Eu nunca poderia chamar
suas bochechas de rosas
Ou seus olhos de luzes,
ou sua voz de um canto doce.
Minha poetice maldita
só me deixa admirar
A sua expressão
enquanto mulher, mulher viva.
//
Eu só posso oferecer
as luzes pálidas do sereno
E o calor das noites de
verão, de peles suadas.
Sou maldito e não
saberia ser menos ameno
De falar o improvável
nas horas mais erradas.
É fato, entrentato,
que nunca perco um movimento
Das suas curvas,
imaginando a sua temperatura.
Enquanto sua boca se
mexe, delicado momento,
Acompanhando aonde a
sua mão se situa.
Temendo a faca eu creio
permanecer calado.
Admirando o crepúsculo
quieto me posto
E a esperar a
oportunidade de sentar ao seu lado
Para discretamente
olhar pintas do seu rosto.
A minha esperança é
que eu possa ser contaminado
Pela energia que exalas
quando fala e sorri.
E voltar a olhar para
mim mesmo, quando calado
E saber, mesmo que
raramente, que comigo estou aqui.
//
O que brilha não são
as artes gentis. Olhos doces não me dizem nada,
Prefiro me perder em
olhares que me dizem mais.
No que é complexo
demais pra ser doce.