Não cruzarei o istmo, nem aquém
Farei meu sacrifício. A dor do
mar
Convulso aflige os débeis braços
que
Me pesam, e que invejam o
albatroz
Sulcando o ínvio azul. Não, nem o
vórtice,
O escolho e o pélago profundo
temo,
E a morte que o oceano urde em
seus
Abismos: o erodir eterno e frio
Da areia em minha carne; o
julgamento
Vazio do olhar de peixes a meus
ossos;
O céu no escárnio à luz de
escamas. Não.
Assombra-me o momento do
abandono:
A quilha em escombros; o sextante
baço;
Silêncio a inflar minha mortalha
ao mastro.
Eu sei, somente este timão em
lascas
Aplacará a tormenta; apenas mãos
Atadas apaziguam os deuses. Ó,
Ulisses, quando avante à tua
Ítaca
Sonhada te lançaste, contra a
fúria
E ardil infesto do abissal Poseidon,
Mais livre foste que jamais será
A humanidade, e mais divino o mar
Em teu caminho que o cruel
Elísio.
O céu é breve no horizonte, o
azul,
Infindo, e o odor de terra me
inebria.
Somente sou minha memória agora,
Agora em que o horizonte e o
mastro marcam
O instante da ablução - em que o
infinito
Se encarna na dissolução. Acaso
Entenderia a água o intento
Humano de acossar aquela linha
Evanescente para sempre além
De seu desejo? Não. Eu tenho por
Irmãs as nuvens que se impelem
rumo
Ao seio do absoluto. Mas, que diz
O mar? Que tudo acaba. Esse
instante
Craveja em minha carne; o
derradeiro
Momento, o último. Que há além?
Que há aquém? Somente o instante
imóvel,
Irresoluto; e nele, eu, soluto.
O ar adensa. Aqui embaterei a
hora
Em que a procela engolfa a luz
final
E o raio inscreve contra o
turbilhão
Das trevas meu destino amaro e a
chuva
Encobre o espaço amplo que me
resta,
Trazendo vivo o uno inevitável.
Não há de me encontrar a aurora,
nem
Me agraciará o sol de um novo dia,
Porém, perante a imensidão do
Todo,
Abarcarei o Nada inabalado.