O que senti naquela incoerência
Que chamamos de espaço e tempo
Foi quando esperança, eloquência
Juntaram-se confusas ao lamento
É algo que surge muito breve na ponta de um orvalho
Que talvez nunca se tenha visto de verdade, intuito de sonhador.
Algo que canta tão baixo em tão bela entonação
Que abre um sorriso no rasgo da existência, e desabrocha
no assovio do vento,
O que senti tinha uma nítida cor lilás e se mexia
delicadamente por entre as rosas
Algo que não cultuamos e deixamos escorrer rio abaixo,
indo descansar suas feridas.
Já chamaram de tantas coisas, eu acho que isso não tem
nome
Luta de forma vã contra nossas nuvens de morte, até que
amanhece o dia.
E por onde vagas o perdido, que vá tranquilo e andante
Porque se é de ti, para ti concebido a salvação do cego
Não deixe-te perder esse peito bravo de cavaleiro
relutante
Sábio ilustre das coisas pífias, dos montes abertos e do
ego
É algo que o filósofo carrega no peito, talvez ele sinta
isso
Mas não sabe dizer se aquilo dança ou se baila lento.
O que senti é algo que o silêncio conhece das suas
aventuranças
É algo além do inútil e do essencial, talvez eu ouço-o
gritar por identidade,
Mas nada será além de amordaças presas nos olhos do
inocente.
Inocente aquele que se deita e espera por valsas e
violinos
Justamente aqueles que bailam é que se deleitam nos
pecados essenciais,
E ignoram tal nome, por serem libertos demais para
senti-lo.
O que eu senti foi algo leve e delicado
Que poderia limpar o pólen da mais frágil flor
E se propaga invisível, morre invisível e se rasga nas
bocas insensíveis
Há quem chame de felicidade, ou mesmo de sofrer
Quem diga que é bom, ou que dói feito fome
Entristeço por ser um que sente sem poder dizer
Porque o que senti, não sei, ainda não tem nome.
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