segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

À Poesia Contemporânea

Por que renunciarei qualquer caminho
(Banhar-se ao sol no despertar da luz
Ou afogar-se à lua e sua cruz,)
Se embebedo-me do mesmo vinho?

Por que desmembrarei em toda a parte
A carne que formou meu próprio ser
Apenas por não mais os vivos ver,
Bastardos filhos desta pobre arte?

Ou mesmo em outras vestes encobrir-me
Que não da minha própria estação.
No inverno vivo, e vós, por que, em verão
De aridez sem fim, querem despir-me?

Trocar-me a taça - um copo até maior.
Servir-me água? Antes dai veneno,
Que o amargor mais me será ameno
Do que não conhecer qualquer sabor.

Contenta-te, então, com teu vagar
Por um deserto que sem horizonte
Se vai. Que quero eu com seca fonte
Se muito mais profundo é o meu mar?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ode à Decadência

Bebamos, pois, almas amarguradas,
Bebamos em anseio à decadência,
Mordaz escárnio e maledicência
A todas falsas tradições passadas.

O vinho, essência de visões sagradas,
E o bêbado, adivinho da inconsciência,
São certamente o ecoar da ausência
De conjurações impronunciadas.

Sejamos a correspondência exata
De espíritos de onisciência inata
Que brindam a esta vera falsidade.

Sempre ao fim esta voz é escutada:
Bebabamos! pois não há maior verdade
Que a primordial máxima: o nada.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Rosa Torta


Se a Rosa que tanto se elogia,
De repente, assim sem avisar,
Encontra a brisa forte, mas tardia,
Teria de ser Rosa, ou flor, deixar?

Porque a Rosa torta ainda é Rosa,
E o Amor estranho ainda é amor.
Rosa, torta, é maravilhosa,
Mas Amor morto é sempre dor.

Mesmo quem nega teu cheiro e cor
Quando te vê nos vãos abandonada,
Impuros, jamais esquecerão teu amor,
Mesmo nos tempos da tumba lacrada.

Pois que tem fez, assim a fez, a Rosa.
Deu-te perfume e te fez alegria.
E se arrependerá, quem cuja prosa
Tenta te arrancar a tua poesia.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

She Walks In Beauty - Tradução

Tradução do poema "She Walks in Beauty" do poeta Lord Byron, espero que gostem.



Ela caminha tão bela


Ela caminha tão bela quanto o anoitecer
  De aspecto calmo, singelo e tão brando
O mais belo, tanto de luz ou escurecer
  Faz seus olhos, seu maior encanto
Tão doce que toda luz vem a esquecer
  Céu nega a luz do dia, tal o espanto
Se a luz vai embora, e a treva que dança
  Não te negaria viver, metade de tua graça
Viva em cada penumbra de cada trança
  Ou de tua face tão doce, vívida feito brasa
Onde teus pensares doces, de mudança
  Viventes no santuário puro, sem ameaça


Eu contemplo tua face, tua feição
  Calmo, macio, ainda eloquente
Sorriso, que brilha em inspiração
  Nada além de doçura se sente
Sonhos de paz, desta cujo coração
  É de um amor sempre inocente


Amor e fim


A Menininha conheceu o Meninão, e pra ele entregou seu amor.
Seu sorriso era mais rosa, seu perfume era mais cheiroso.
Ele sorria feito um retardado e achava que ego era bom,
Ela se gabava para os anjos que aprendeu a sorrir de verdade,
Ele mal sabia se estava sorrindo ou se aquilo era um sonho.

Mal surtia o efeito da manhã e os dois se viam, grudados
E encolhidos em casulos feitos de sonhos e promessas.
Tiveram tanta sorte, tanto poder de saber mudar as coisas
E de rasgar as lágrimas ao meio, nem chegavam ao queixo.
Eram o tempo lúdico iludido, labuta lerda de lamber os lábios.

Mas sempre há de forjar medo onde há riso, e de tudo acabar.
Sempre há quem odeie o sorriso e vomite um suspiro, não é?
Eles sabiam das flechas que iriam levar, por seu amor de carmim,
Mas não é bem assim, não há jasmim ou serafim, não? Sim.
Mas eles lutaram até a última gota de orvalho em seu lindo jardim.

Abraçaram seu amor, e nunca largaram.
Mas eles, os maus, não deram nenhuma chance.
E no fim, suas carícias acabaram,
É. Pois ela, nossa vida, não é romance