sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Réquiem

Réquiem

À meia-noite o badalar de sinos pranteia aquela que partiu e canta em coro com o murmúrio e o lamento do sopro do vento que entrecorta cada gota de chuva que cai em um sussurrar sibilante e a tempestade que urge em agonia veste de luto a natureza.
À meia-noite, apenas lágrimas e tristeza
Olhando ao meu redor nada vejo que acalme este sentimento de ódio e solidão, apenas o vazio e escuridão do negro da noite onde contemplo vagamente a imagem de seu filho vagando embalado pelo canto das almas perdidas que sussurram em desespero e clamo para que em breve ele me conceda a visita que cedeu à minha amada em sua frieza.
A Morte vaga pelo o vento e a incerteza
Seu toque, cruel ou benevolente? Ainda sinto sua presença nas sombras à minha volta, nas horas solitárias, quando ouço o clamor horripilante trazido pelo vento. É sua voz que ouço? Devo temer ou me alegrar? É sua voz que ouço: “Não deixe que tua alma esmaeças.”
Não temas, ainda que não a conheças
Morte e Sono, filhos da Noite, senhores do Esquecimento. Que é a morte se não o sono da alma? Que é o sono se não a morte da consciência? Que é a alma se não a consciência? Se o pecado do homem é o conhecimento, o esquecimento é sua salvação. A morte. O oblívio. Bebas do gentil nepente e esqueças. Inebrie-se. Esqueças.
Não temas o fim que a ti pareças
O barqueiro já está pronto para a travessia. A sineta toca convocando os passageiros a embarcarem. O sino toca convocando os espíritos a se congregarem. O que haverá além da costa? Não há resposta que não esteja esquecida.
Pois a única a certeza da alma perdida
Mas se hoje choro é porque uma vez sorri e cada lembrança que tenho de ti me acalma e me consola, cada memória sua de cada palavra dita alegra minha alma amargurada e entristecida.
É que apenas há morte onde houve vida
E os sinos tocam à meia-noite.