domingo, 30 de junho de 2013

O Poema


Eu olhei para o Poema, o Poema olhou pra mim.
Prestamos a nos olhar, num diálogo sem fim.

Eu li o Poema. O Poema, de pronto, me leu.
A ponto que não sabia o que era Poema e o que era eu.

Eu sorri, e a lágrima o olho rapidamente solta.
E o Poema logo depois (juro!) sorriu de volta.

sábado, 29 de junho de 2013

O Dragão sob a Montanha

(Uma tentativa de imitação do verso anglo-saxão, acredito que seja o primeiro poema que escrevi)

Sob a sombra da montanha, || serena a neve jazia
Sangue e cinzas ao chão, || o som do pranto se erguia
Fumaça e fogo aos céus, || a face do rei sem vida estava
Morte! Morte! Ao demônio alado, || em mágoa gritava um jovem
Parado em pé, || perante o horror que seus olhos viam
E o dragão desvanecendo no céu, || dirigía-se ao topo da montanha
Erguendo sua espada furioso, || ao encontro do verme correu
Montanha acima movia-se lentamente, || a morte lhe inflamava o coração
Avante avistou a grande besta, || alva como o branco à sua volta
O que buscas, criança? || Questionou o animal
Retornei com tua ruína, || respondeu o jovem
Vim vingar o meu povo, || verme assassino
Teu sangue será meu || e só então descansarei
Por que te precipitas? || Pediu o dragão
Tens certeza em sua busca? || Será correto o que procuras?
O monstro que queres matar, || não é aquele que morto está?
O animal que assolava esta terra, || não é aquele que queres vingar?
Sobre sangue e crueldade || seu povo reinou
E com medo e morte || manchou este lugar
Criaturas cruéis, || criminosos e assassinos
O destino os devolveu || a desolação que causaram
Mas a mesma morte que os cercava || mostra-se em teu olhar
Podes tu puní-los? Podes tu julgá-los? || Perguntou o jovem
Em silêncio subiu o dragão aos céus || sem responder tal indagação
Rapidamente retornando de onde viera || tal como repentinamente surgiu
E o jovem jazia ponderando || que julgamento o destino lhe traria


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Memento Vivit

Sobre a muralha da Imortalidade,
Renascido, assentava-se observando
Os fragmentos humanos caminhando,
Rindo no êxtase da Eternidade.

Corpo a corpo, o tropel da Ebriedade
Seguia a si, cego, rejubilando
Sobre o pó, em  feridos pés dançando
A dança una da Mortalidade.

Indiferente ao vento torturante
Sobre a desolação cinzenta e fria,
A inconsciente multidão seguia;

Sobre a gélida rocha lancinante
Angustiava-lhe um pesar profano,
Uma saudade de ter sido humano.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Elegy for an Era

An old tradition have laid on his bed.
Tired of word-making and world wrought to best,
He laid his head. "Let him there, let him rest.
I do not think (I hope not!) he is dead."

His blind eyes of Homer, his aureole,
Rest, too, beside his heart (let us wait, let
Her make our bed) and on his hands are set
His Roman staff of rule, his capital.

But now we wait to uncover her eyes,
To unconver her hair and hands and sighs,
To uncover what was unknonwn by light.

At night we'll know what was by light unknown.
At night we'll know if should we crave for dawn.
At night we'll wait. At night we'll wake. At night...
Após a noite fria
Cobrimo-nos com cobertor alheio
E nossos pés estão gelados.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Tempestade

Aqueles frágeis galhos desconhecem,
Tocados pelo divinal temor
Da turbulência do calvário, a dor
À voz dos sacrifícios que perecem,

O fero aflar das asas que estarrecem
Tróia e o eco que ecoa pelo horror
Do inaudito Verbo criador
Que engendra os frêmitos que os entorpecem.

O céu expurga sua violência
Sob a quietude pálida do nada
Descendo do celeste eterno drama

Por galhos de inconsciente reverência
E Árvore por eras assombrada
À folha arrebatada junta à grama.


Ser é um ato de poetar



O humano nasce opaco,
Sem a forma a contornar;
Nasce tosco, nasce caco,
Algo que ‘inda irá formar

E se conhece vazio,
Sem um chão, ou nome. Claro
Como um quadro anil.
Tal, perdido e sem preparo.

Vai encontrar a essência,
Vai humano se chamar,
Quando de si for vidência,

Que ser é um ato de amar,
E muito mais que aparência,
Ser é um ato de poetar.