terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Infortúnio Solitário

"Poema que abre uma obra que comecei nomeada "Saga dos Vermes". Espero que gostem."


A neblina que é solitária adora me visitar,
Mesmo quando estou parado esperando um sol.

As incontáveis vezes que dormi faminto
Ou encharcado de saudades e desejos
Nunca compensaram os dias de companhia.
Não sei bem de quem, algo muito superficial.

A cerveja parece sempre mais quente, o cigarro mais vagabundo,
A grama menos verde, com perdão do clichê horrível.
Shakespeare parece piadas ruins de boteco
E Vivaldi parece rangido de giz no quadro negro
Ou um gato torturado com lâminas mal afiadas.

Ás vezes dá uma vontade de esquecer tudo
De aprender tudo de novo, como a ingênua criança
Que ainda não vê o câncer do mundo.

Todo dia aprendo a mesma coisa, a mesma pauta, a mesma lição
Que esqueço todo dia quando ironicamente esboço um sorriso.
A vontade de construir um reino com as próprias mãos
E a lição de não se erguer um mero tijolo, do mais leve.

Maior inimigo é o espelho, tanto o que mente quanto o que revela.
O gosto de amargo no final da vida é sempre o mesmo.

Sempre acabo indo dormir cedo
Depois que a televisão enjoa de mim.

Já ouvi que uns negaram a melancolia, talvez estejam certos,
Ou estão olhando o espelho errado, como eu
Quando gastei muito tempo enxergando anjos brincando nas campinas.

Para terminar essa putrefação tanto de espírito quanto de arte
Deixe-me, por favor, só essa vez, rimar.
Dessa lama, o nobre e o verme, qualquer um faz parte
E eu como verme, aprendi onde é meu lugar.

3 comentários:

  1. "Maior inimigo é o espelho" Meu também. UIAHUahahaha...
    Belo poema, não saco muito de poema, mas flui muito bem.

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  2. Admiro você.
    Tens o meu respeito. Belo poema, meu caro.

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  3. É, Ryan, isto é ótimo, uma boa construção. Muito bom excerto...

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