segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

À Poesia Contemporânea

Por que renunciarei qualquer caminho
(Banhar-se ao sol no despertar da luz
Ou afogar-se à lua e sua cruz,)
Se embebedo-me do mesmo vinho?

Por que desmembrarei em toda a parte
A carne que formou meu próprio ser
Apenas por não mais os vivos ver,
Bastardos filhos desta pobre arte?

Ou mesmo em outras vestes encobrir-me
Que não da minha própria estação.
No inverno vivo, e vós, por que, em verão
De aridez sem fim, querem despir-me?

Trocar-me a taça - um copo até maior.
Servir-me água? Antes dai veneno,
Que o amargor mais me será ameno
Do que não conhecer qualquer sabor.

Contenta-te, então, com teu vagar
Por um deserto que sem horizonte
Se vai. Que quero eu com seca fonte
Se muito mais profundo é o meu mar?

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